Pocinho > Tua > Régua


7 de JUNHO DE 2019

Estava já no meu 3º dia em Portugal, pausa de um trabalho com contrato temporário, e decidi realizar mais um passeio ao Alto-Douro, voltando novamente a aquela que é uma das minhas estações favoritas na Linha do Douro, a Estação do Tua. Decidi também visitar pela 1º vez uma outra estação que também passou a ser uma das minhas favoritas, a Estação do Pocinho e fazer uma visita rápida à Estação da Régua que já não visitava desde 2007 (na altura tinha 15 anos), mas agora com 27 anos decidi visitar essas três estações.

Tudo começou obviamente um dia antes, uma ida ao Pingo Doce de Penafiel para comprar provisões, desta vez levei bastante pão, batatas fritas, bolachas (levei uns 5 pacotes) e muita água. 4 litros de água.
Nos dias que estive a trabalhar na Bélgica, fui planeando este passeio, ia todos os dias consultar os horários da CP e memorizando-os.

Como queria percorrer um pouco do troço da Linha do Douro Pocinho - La Fuente de San Estebán Boadilla e um pouco da Linha do Sabor, decidi que era melhor embarcar no comboio das 8h00 da manhã em Penafiel.
A viagem até ao Pocinho foi fantástica, melhor do que isto só se for realizar 2x a viagem de ida e volta no mesmo dia.

Voltando atrás, embarquei às 8h00 em Penafiel.

Automotora espanhola CP 592.

Mal embarquei procurei logo pelo revisor para comprar o meu bilhete, pois a bilheteira da estação estava fechada, depois de ter o bilhete lá me sentei numa janela do lado esquerdo do sentido da marcha e só após a Estação da Livração é que troquei de carruagem e de lado, pois na carruagem que eu estava, tinha algumas raparigas à conversa e como já disse no outro post, prefiro viajar de comboio de forma mais relaxada e sem ter de ouvir as conversas dos outros.

Estação da Livração, Linha do Douro e Linha do Tâmega (Pk da Linha do Tâmega que se vê na foto é o Pk 0,25)

Rio Douro

Ao chegar a Pala já se vê o Rio Douro (que nasce na Serra do Urbião em Espanha e a sua foz no Oceano Atlântico no Porto).

Apartir de Mosteirô a linha acompanha o rio até à fronteira em Barca D'Alva.
Às 9h15 o comboio fez paragem na Estação da Régua e às 9h17 lá arrancou até ao Pocinho, passando por várias estações e apeadeiros (Covelinhas, Ferrão, Pinhão, Tua, Alegria...)

Pouco depois do apeadeiro de Alegria, o comboio entre no Túnel da Valeira, onde antes naquela zona do rio exisitiu um cachão que impedia a navegação no rio entre o Porto e Espanha e aquele local também ficou conhecido pelo afogamento de Joseph Forrester num naufrágio que o barco a rebelo, onde ele seguia, afundou e foi a única vitima mortal sendo que a sua amiga Adeleide Ferreira (criadora de um dos Vinhos do Porto) sobreviveu.
Na década de 1970 foi construída a Barragem da Valeira e desde que ficou concluída as águas do rio subiram na cota, fazendo com que o Túnel da Valeira passe alguns metros por debaixo da água.

Túnel da Valeira.

Por volta das 10h30 cheguei ao Pocinho.
Era aqui no Pocinho que começava a Linha do Sabor, que ia até Duas Igrejas - Miranda do Douro.
Estação do Pocinho

Comecei logo a minha visita pela estação, apesar desta estação não ser como a do Tua (museu com coisas sobre a Linha do Sabor e do troço do Douro pelo menos até Barca D'Alva).

Interior da Estação do Pocinho.

Comecei a minha caminhada no que resta da Linha do Sabor junto ao Pocinho, eu queria atravessar a ponte para o outro lado da margem do Rio Douro. Cá fora não existem muitos vestígios de material circulante abandonado da Linha do Sabor (carruagens, etc.) porque estava tudo dentro das oficinas do Pocinho, que estão encerradas, mas vi um vagão e após passar um contentor azul, fiquei admirado em ver uma locomotiva que andou nesta linha.

Locomotiva E213

Pouco mais a frente já não existem os carris da Linha do Sabor que foram removidos para serem colocados blocos de cimento, porque a antiga Cecil comprou um pouco daquele espaço, mas mais a frente junto às oficinas, já voltamos a ver os carris e fui até à entrada da ponte.

Linha do Sabor Pk 0,80

Fui só até à entrada da ponte. Na entrada tem uma corrente, podia passar facilmente mas do outro lado existe uma barreira suficientemente alta para passar por cima e suficientemente baixa para passar por debaixo, esta ponte foi a 1º coisa a ser construída antes das obras da linha e é uma ponte rodo-ferroviária, pois os carros passavam no tabuleiro inferior.
Para aqueles que queiram ir até à ponte, a caminhada é fácil, podem caminhar por uma valeta ao lado da linha.

Ponte da Linha do Sabor. Encerrada em 1988.

Estação do Pocinho, vista da Ponte da Linha do Sabor.

Voltando para trás, como ainda planeava percorrer pelo menos 1km da parte da Linha do Douro que está fechada, tinha planeado que embarcava no comboio das 13h21, mas às 11h00 já tinha feito uma parte do que queria. Então segui pelo bairro ferroviário e no vídeo mais abaixo eu digo um erro, onde penso que mora gente ali, mas também não sabia.

Bairro ferroviário do Pocinho

Neste bairro viviam os trabalhadores não só das oficinas, mas também maquinistas, fogueiros, agulheiros e outras pessoas que trabalhavam na ferrovia quer do troço internacional da Linha do Douro, quer da Linha do Sabor, mais ao fundo há uma estrada de acesso ao tabuleiro inferior da Ponte da Linha do Sabor que também está encerrado mas hoje em dia é utilizado para provas de atletismo como uma alternativa à Barragem do Pocinho, depois de saír do bairro ainda tentei arranjar algum buraco para espreitar para o interior das oficinas do Pocinho para tentar ver algum material circulante abandonado da Linha do Sabor, mas sem sucesso, então comecei a caminhada na Linha do Douro, troço encerrado entre Pocinho e La Fuente de San Esteban Boadilla.

Acesso rodoviário à Ponte da Linha do Sabor.

Linha do Douro (Troço Pocinho - Barca D'Alva - La Fuente de San Esteban Boadilla, encerrado entre 1985 e 1988).

No inicio achei fácil, mas depois ao ver a vegetação, aí comecei a ver as dificuldades que iria ter, mas como na zona de um armazém contém uma segunda linha e sem grande vegetação, então passei para essa linha e fui ao final dela numa área onde a vegetação fica mais densa.


Se nada me podia parar a caminhada, sim nada me iria impedir, mas se me metesse medo, sim e foram três cães que eu os julgava como cães vadios que começaram a ladrar e a correr na minha direção, fiquei tipo paralisado de medo. Se me atacassem?
Quando chegaram à minha beira, eles começaram a cheirar-me e um deles ainda ladrava com raiva até ter feito festinhas e um dos que me cheiravam e aí é que me apercebi que eram amigáveis e o barulho de andar no balastro é que os fazia ladrar.
Então apareceu uma senhora que trabalha na quinta que se vê na imagem a seguir e assegurou-me que eles não me faziam mal. Não podia ter vindo mais cedo, foi preciso dizer-me aquilo no momento que eu os acariciava? Ela pediu desculpa e informou-me que eu estava a mais de 27kms de Barca D'Alva (pensou que eu ia para lá) mas disse que só ia até mais à frente, ela perguntou-me de onde eu era e eu respondi Penafiel no qual ela me disse que mora perto de Penafiel, mais concretamente se me lembro foi Gondomar ou Ermesinde e como estava quase na hora de almoço e a vegetação à frente era pior, desisti de continuar e perguntei se aquela estrada ia até à aldeia do Pocinho através da barragem e depois das indicações dadas, rumo à Estação do Pocinho pela estrada.

Cãezinhos simpáticos que até metem medo.

À medida que ia voltando à estação através da estrada, fui apreciando as paisagens e notei num placar que eu estava em pleno Parque Arqueológico do Vale do Côa, mas o Museu do Côa fica a 1 ou 2kms da Estação do Côa, mas desde 1988 que não passam lá comboios.


Quando cheguei ao topo da Rua da Estação, não fui logo almoçar, como ainda não tinha fome, então decidi conhecer um pouco desta aldeia que se desenvolveu em torno da ferrovia, subi a rua principal desta mesma até chegar a uma rua que dá acesso a uma escola primária e à Rua da Estação.

Rua Principal do Pocinho

Rua que dá também acesso à Estação do Pocinho

Gato no telhado de um barracão no Pocinho distrito da Guarda, ao fundo da imagem vê-se árvores do lado do distrito de Bragança.

Depois de uma visita mais detalhada à Estação do Pocinho, fui até a um cafézito onde tomei um café e perguntei se eu podia comer ali o que eu tinha na mochila, mas lá o dono levou isso a mal e disse-me que podia mas tinha de me sentar nas mesas que estavam no exterior do café. Sorte a minha e o azar dele, almocei com uma vista explêndida para Trás-os-Montes, explicar melhor, eu estava ali no Pocinho (distrito da Guarda) na região da Beira Alta a olhar para Torre de Moncorvo (distrito de Bragança) na região de Trás-os-Montes, eheheh.




Toda a paisagem que tive durante o meu almoço.

13h21 já estava dentro do comboio, o meu próximo destino foi a Estação do Tua.
Mal cheguei ao Tua por volta das 14h02, fui ao Centro Interpretativo do Vale do Tua onde o guia até disse "Está cá outra vez?" bem o pessoal do Museu de Penafiel também diz sempre o mesmo sempre que vou lá, ao contrário do pessoal da minha idade eu gosto mais de uma vida sossegada e conhecer culturas que não sejam bebedeiras e festivais de música.

Visitei o centro e depois como tinha 4 horas até ao próximo comboio, lá iniciei a minha caminhada na Linha do Tua.
Caminhar nesta linha já é um desafio, pois não tem nenhuma valeta ao lado dos carris, por isso, para caminhar nela tem de ser entre os carris e a forma mais fácil é usar os troncos de madeira que facilitam a caminhada, mas cuidado, pois há pregos soltos ali.

Linha do Tua Pk 0,916

Caminhar neste troço pedonal de 1,460kms é uma homenagem a uma linha que tinha ao todo quase 140kms e agora só tem uns meros 20 a 30kms. Parte dos 52kms entre Tua e Mirandela foi afundado nas águas do Rio Tua que subiram à cota de mais de 100 metros de altura devido à Barragem de Foz Tua, mandada a ser construír por um bando de políticos corruptos da Assembleia da República e também em especial por um político de Bragança que se mostrou contra a reativação da Linha do Tua entre Mirandela e Bragança, os políticos dos municipios do Vale do Tua foram contra a barragem mas a Assembleia da República que disse que a maioria dos municipios do Vale do Tua é que escolheriam, viram os 5 municipios a dizer NÃO À BARRAGEM e em 2007 e 2008 a Assembleia da República sabotou a linha várias vezes causando acidentes e o último que foi em 2008 matou duas pessoas e com isso deram por encerrado o troço Tua - Cachão só para satisfazerem as necessidades deles de roubar milhões de milhões aos portugueses só para fazer uma parede de betão que só produz 1% da energia elétrica para Portugal e 99% para Espanha.

Ao chegar ao fim do troço pedonal, vi um portão que me impedia de ir até pelo menos à Ponte e túnel das Presas e dali dá para ver muito bem aquilo que destruíu um Património Mundial da UNESCO, sim nem mesmo a UNESCO quis saber, deixaram construír a barragem porque o nosso governo pagou-lhes em boas quantias de dinheiro o que motivou a vinda da troika em 2012.

Linha do Tua, ao fundo a Barragem que matou a Linha do Tua.

No caminho de regresso saí para a estrada e fui até à ponte rodoviária, pois dali dá para ver a 1º ponte e o 1º túnel da Linha do Tua com maior detalhe.



Ao apreciar a vista para aquelas infraestruturas, fiquei fascinado como é que naquela altura em que a linha foi construída, como os operários construíram aquela ponte e túnel sendo que na época não haviam acessos e tinham de descer as escarpas para construír o pilar da ponte que está ali no meio das rochas graníticas.
As duas fotografias que tem acima, foram as duas melhores fotos que tirei até hoje e podia tirar uma 3º fotografia se nunca existisse a Barragem de Foz Tua e assim tiraria uma foto apanhar esta ponte e túnel e as escarpadas do sul do Vale do Tua.

Quando cheguei à Estação do Tua ainda eram 15h25, ainda tinha 2h30 para o comboio e as pilhas da máquina começaram a dar sinais de fraqueza e não tinha mais nenhuma.
Às 18h00 embarquei no comboio que não era Camello da série 592, mas sim num comboio que fazia o serviço Miradouro com carruagens Schindler e uma locomotiva da série 1400, pena que a camera não guardou os videos e fotos.

Por volta das 18h45 à Régua, saí do comboio e fui logo ao material circulante abandonado da Linha do Corgo, pena não ter tido pilhas.
Automotora CP 9700, Duro Dakovic "Xepa"

Locomotivas E208 e E210

Xepa e locomotivas a vapor, E208, 210 e 2**, que andaram na Linha do Corgo.
Fotos foram tiradas por mim numa visita familiar à Régua algumas semanas depois.

Na Régua aproveitei para ver um pouco da localidade e perto das 20h40 entrei no comboio que me ia levar até Caíde onde às 22h20 fazia transbordo para o comboio Unidade Múltipla Elétrica (UME) da série 3400, pouco depois de eu embarcar, entrou um passageiro que tinha terminado o serviço diário nos barcos do Douro, ainda conversamos um pouco das nossas experiências de trabalho profissional.

O comboio devia partir às 20h50 mas só às 21h10 é que foi autorizado a partir.
A meio da viagem fui vendo a que horas chegava a Caíde e reparei que chegava uns 5 minutos antes da partida do último comboio urbano diário para o Porto mas como saímos 20 minutos atrasados da Régua, temia que não chegássemos a tempo, pois este comboio não faria serviço de passageiros apartir de Caíde, pois ia direto para o parque de Contumil (perto do Porto). 
Comecei a entrar em Pânico quando vi que o comboio já marcava quase 40 minutos de atraso em uma das estações, ou seja saímos da Régua com 20 de atraso e chegamos a Ermida com 40 minutos de atraso.
Apartir dali o maquinista só acelarava nos túneis e viadutos, reduzindo a velocidade fora de ambas as infrastruturas pois já era de noite, e quando chegamos a Pala o comboio ultrapassava os 110kms/h para compensar o tempo de atraso e depois do Marco de Canaveses, passava dos 115kms/h, numa linha onde a velocidade média máxima é de 80kms/h entre o Porto e o Pocinho, chegamos a Caíde e o comboio UME esperou que o Regional procedente da Régua chegasse ali, pois chegamos com 2 minutos de atraso mas o comboio só saíu dali 10 minutos mais tarde, sendo que 2 minutos antes lá saíu o Regional em marcha sem transporte de passageiros até Contumil.

Eram 22h40 quando cheguei a Penafiel e mal entrei no carro decidi passar no McDonalds e comprar um Big Mac Menu GRande e um Double-Cheeseburger, ai a fome que tinha mesmo tendo comido no comboio Regional (Régua - Caíde) a fome era tanta e na última vez que fui ao Tua que já foi em Novembro de 2019 e era um Sábado até passei na roullote de cachorros e Kebabs, seja como for gostei desta minha 1º vez no Alto-Douro além do Tua e a minha 2º vez no Tua, apesar de uma pequena lesão que eu tinha no joelho (empregado da firma onde eu trabalhei atirou-me com uma pedra de prepósito ao meu joelho só por ter enganado sem querer na escolha de uma pedra mas esse lá levou dois berros meus e nunca mais se aproximou de mim) andei bastante bem só tive mais dificuldades na caminhada de regresso à Estação do Tua quando saí da estrada para a Linha, pois tinha de subir um pequeno muro e aí senti as dores mas nada me impediu de andar naqueles trilhos e muito menos uma lesão.

Vejam o vídeo desse dia e aviso que a duração é bem grande, pois queria filmar e partilhar o máximo de detalhes possível com vocês, removendo algumas partes que ficaram a mais.
Todas as fotografias, e deixo já um aviso que não são permitidos re-uploads das minhas fotografias sem a minha devida autorização, para pedir autorização enviar mensagem privada para facebook.com/tagenialptoficial, caso sejam colocadas em outros sites ou redes sociais sem autorização, o responsável pelo ato pode ser processado, pois contenho as fotos com as data do dia em que foram tiradas.


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